O extraordinário percurso das belas-damas

Estudo recente conclui que, com o término do verão no Hemisfério Norte, essas atraentes espécies de borboletas fazem todos os anos uma jornada migratória do norte da Europa para a África
 
Com informações da revista Despertai! e da Wikipédia
  
Maioria das belas-damas voa a uma altitude de 500 metros
(Foto: Jorge Alexandre Bernardo Ferreira/Olhares/Sapo)
 
Durante um longo tempo, biólogos europeus têm admirado a atraente e colorida borboleta bela-dama, cujo nome científico é Vanessa cardui, em particular no verão. Todavia, borboletas dessa espécie desaparecem quando a estação termina, por fazerem anualmente uma fascinante jornada intercontinental entre o norte da Europa e a África, conforme descobriu uma pesquisa recente.
 
Os pesquisadores, ao comprovarem esse fenômeno extraordinário, receberam informações provenientes de um sistema de radar sofisticado, além de milhares de relatos enviados por pessoas de toda a Europa, segundo a revista Despertai!, publicada pelas Testemunhas de Jeová.
 
No estudo, os resultados impressionantes demonstraram que, com o fim do verão no Hemisfério Norte – que perdura entre os meses de junho e setembro –, milhões de belas-damas (leia um pouco mais sobre elas abaixo) migram rumo aos trópicos do sul. Grande parte dessas formosas borboletas voa a uma altitude calculada em 500 metros, daí a dificuldade em observar sua migração.
 
Com isso, os insetos esperam ventos que favorecem seu longo itinerário ao continente africano, alcançando uma velocidade média de 45 quilômetros por hora. Em sua migração anual, as belas-damas são capazes de percorrer uma distância de até 15 mil quilômetros, entre a Islândia e a Escandinávia, no gélido norte da Europa, até a tropical África Ocidental.
 
Essa distância corresponde a quase o dobro da que a borboleta-monarca (Danaus plexippus), típica da América do Norte, realiza sua viagem. Conforme a Despertai!, são necessárias seis gerações sucessivas de belas-damas para completar esse ciclo migratório.
 
Segundo Jane Hill, ciclo de migração e reprodução das borboletas continua
(Foto: Divulgação/Universidade de York)
 
Jornadas inversas
 
“A bela-dama continua o ciclo, reproduzindo-se e seguindo-se adiante”, elucida a professora Jane Hill, do Departamento de Biologia da Universidade de York, na Inglaterra, em depoimento à revista. Todas as belas-damas deixam, anualmente, o norte europeu em direção à África, ao passo que as gerações subsequentes da mesma espécie saem da África rumo à Europa.
 
Para o gerente de pesquisas da organização não governamental (ONG) britânica Butterfly Conservation, Richard Fox, a borboleta bela-dama é “uma pequenina criatura” por pesar menos de um grama, possuir um cérebro do tamanho de uma cabeça de um alfinete e não poder aprender de indivíduos mais velhos e experientes da espécie. No entanto, ela “consegue realizar uma migração intercontinental heroica”.
 
“Acreditava-se que esse inseto voava às cegas, levado pelo vento, rumo à extinção no mortífero inverno britânico”, pondera Fox à Despertai!. Contraditoriamente, de acordo com o pesquisador inglês, o estudo revelou que “as belas-damas são viajantes bem-avançadas”.

Espécie de borboleta é a mais difundida no mundo

Também conhecida por bela-dama ou vanessa-dos-cardos, a Vanessa cardui, Cynthia cardui ou Papilio cardui foi descrita em 1758 pelo biólogo sueco Carl von Linné (1707-1778) como um inseto pertencente à família Nymphalidae. De acordo com a Wikipédia, é uma das espécies de borboletas com distribuição geográfica mais abrangente, sendo encontrada em todos os continentes, com exceção da América do Sul e da Antártida.

Vive apenas em zonas de clima temperado, inclusive na Europa (onde é mais comum em Portugal), na América do Norte e na Austrália, além das montanhas dos trópicos, mas reside permanentemente apenas em áreas temperadas. O ciclo migratório das belas-damas ocorre com frequência na primavera e, de modo ocasional, no outono.

Caracterizadas por seu corpo preto e branco e por suas asas alaranjadas com marcas pretas e brancas, elas têm comprimento variável entre 5 e 9 centímetros. Os ovos do inseto levam duas semanas para eclodir, levando em consideração seus estágios reprodutivos desde o nascimento: a lagarta leva de 7 a 11 dias para se transformar numa crisálida, que leva mais 7 a 11 dias para tornar-se uma borboleta.

Na fase de lagarta, as belas-damas se alimentam de uma variedade botânica, incluindo plantas silvestres como a Carduus crispus, vulgarmente denominada cardo – de cujo néctar também é sugado já no estágio adulto –, daí o nome popular alternativo vanessa-dos-cardos. As espécies análogas à bela-dama são a V. annabella, a V. kershawi e a V. virginiensis.

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