PSB realiza seminário sobre a saúde pública na Bahia

Situação atual e perspectivas do sistema sanitário em âmbitos brasileiro e baiano foram debatidas em encontro organizado pelo diretório estadual do partido
 
No seminário, que integrou a série “O PSB Pensando a Bahia”, Lígia Maria Vieira e Glória Teixeira, professoras do ISC/Ufba (acima), questionaram o Sus e a reforma do sistema de saúde nacional
(Foto: Hugo Gonçalves)
 
Sensibilizado com os temas de interesse social, o diretório estadual do Partido Socialista Brasileiro (PSB), através da Fundação João Mangabeira (FJM), está dando continuidade a uma série de seminários, intitulada “O PSB Pensando a Bahia”. O último debate, que abordou os desafios e os rumos da saúde pública no Brasil, em particular na Bahia, aconteceu na noite desta segunda-feira (5), no auditório do restaurante Ciranda Café, Cultura e Artes, no Rio Vermelho.
 
Para uma plateia composta por militantes, vereadores, líderes comunitários, dirigentes de entidades e profissionais da área, a professora de pós-graduação em Epidemiologia, Maria da Glória Teixeira, e a ex-secretária de Saúde de Camaçari e professora de Políticas de Saúde, Lígia Maria Vieira da Silva, ambas do Instituto de Saúde Coletiva da Universidade Federal da Bahia (ISC/Ufba) e referências nacionais no assunto, questionaram o Sistema Único de Saúde (Sus), as reformas no sistema sanitário brasileiro e as mudanças sociais.
 
O debate teve como mediadora a presidente do PSB na Bahia, senadora Lídice da Mata. De acordo com a parlamentar, a legenda vem realizando um conjunto de mesas redondas sobre temas que estão em pauta na esfera política nacional, com repercussão no Congresso, num ambiente de informação, e está se preparando para as eleições de 2014. “É um trabalho de militância do partido. Nem sempre os militantes estão convidados”, afirmou.
 
Glória argumentou que o Sus, apesar de ser um programa de extrema relevância, é combatido e vilipendiado por alguns políticos. Já Lígia traçou um diagnóstico histórico das lutas pela otimização do sistema de saúde no país a partir da ditadura militar, com o intenso apoio das agremiações políticas e da sociedade civil organizada. “A reforma sanitária brasileira foi um movimento construído em microcosmos sociais, e ocorreu durante a redemocratização”, rememorou a professora.
 
Sessão foi mediada pela senadora Lídice da Mata (à esquerda, ao lado de Milton Bezerra Filho), presidente estadual do PSB
(Foto: Hugo Gonçalves)
 
“Sus democrático”: um sonho possível
 
Ao contrário do Sus real, subordinado aos interesses econômicos, que interfere objetiva e subjetivamente os profissionais de saúde, há o Sus ideal, utópico ou democrático. Conforme Lígia Maria Vieira da Silva, ele foi concebido por médicos, enfermeiros e pesquisadores socialistas, que pretendiam implantar uma revolução no Brasil. “Enfim, nós temos o Sus democrático, que nós sonhamos”, ressaltou. O “Sus democrático” fundamenta-se em quatro pilares: universalização (saúde como direito de todos), integralidade (atendimento a todas as necessidades), efetividade (qualidade técnica) e equidade (justiça).
 
Lígia reiterou, no seminário, as perspectivas da sociedade para a efetivação do “Sus democrático”. Para atingir esse objetivo, é primordial a colaboração da juventude e de seus movimentos representativos, dos partidos, do poder público, dos profissionais de saúde, da comunidade técnico-científica, em especial os pesquisadores, e dos usuários do sistema. A professora salientou ainda que, até a gestão do governador Jaques Wagner (PT), a Bahia não estava incluída nas políticas sanitárias.
 
Entre os anos de 1994, quando o Programa Saúde da Família (PSF) foi implementado, e 2011, as equipes que atuam no segmento tiveram um incremento significativo em território nacional. Na Bahia, explica a especialista, Salvador é o município onde o PSF possui a maior cobertura. Uma das estatísticas apresentadas no seminário demonstrou que 98% dos pacientes que buscaram atendimentos conseguiram ter acesso aos serviços de saúde, no período correspondido aos anos de 1998, 2003 e 2008.
 
Há, porém, um paradoxo evidente na saúde pública em âmbito nacional, principalmente no que diz respeito ao financiamento. Lígia disse que os investimentos no setor, embora tivessem uma elevação considerável, ainda são insuficientes, em comparação com outras nações da América do Sul. “O Sus hoje financia para todas as classes, mas as classes privilegiadas – as médias e as dominantes – usam melhor esse serviço do que as populares”, disse.
 
Outros problemas detectados pelas debatedoras são a política de recursos humanos, na qual impera, de forma precária e equivocada, a contratação de profissionais, e a hegemonia do setor privado. Quanto ao mercado de trabalho na área de saúde, a professora afirmou que se trata de “uma carreira difícil, longa, complexa e que exige sacrifício”. Para ela, mesmo “entranhado de diversos aspectos, como a renúncia fiscal”, o setor privado é uma questão importante a ser analisada, pois “formata corações e mentes de toda a população”.
 
A vereadora Fabíola Mansur (à esquerda, ao lado de Milton Bezerra Filho), disse que falta, entre outros fatores, vontade política no Sus, considerado por ela “um jovem de 25 anos”
(Foto: Hugo Gonçalves)
 
Médicos para cuidar de gente
 
Retornando à temática do Sus, Maria da Glória Teixeira discursou que o sistema, embasado no pressuposto do direito universal e equânime aos serviços sanitários, diretriz também cristalizada na Constituição de 1988, foi inspirado em modelos trazidos da Inglaterra e do Canadá, países que possuem os serviços de saúde pública mais eficientes do mundo. A docente citou ainda uma frase recente, dita pelo cardiologista e ex-ministro da Saúde, Adib Jatene: “A gente precisa de médicos que cuidem de gente”.
 
Segundo a professora de Epidemiologia do ISC/Ufba, o Sus está presente na vida cotidiana dos brasileiros. “A sociedade só vê e é esclarecida do que o Sus não faz. O sistema está presente em toda a vigilância sanitária dos alimentos”, apontou Glória. Uma das convidadas do debate, a vereadora Fabíola Mansur, líder do PSB na Câmara Municipal de Salvador, afirmou que no Sus, “um jovem de 25 anos” e “maior patrimônio do país”, falta inúmeros fatores, entre eles a vontade política.
 
Fabíola, médica oftalmologista renomada, destacou os avanços do governo Wagner, de quem é aliada, na área da saúde, como a construção de 5 hospitais – inclusive o do Subúrbio – e a ampliação da atenção básica. No entanto, houve uma retração na quantidade de leitos hospitalares. “Precisamos parar de investir em planos de saúde”, reiterou, ao defender um sistema público de saúde eficiente.
 
O poeta, historiador e dirigente do PSB de Remanso, na região norte, Dirceu Régis, explanou que a sociedade capitalista possui uma visão alicerçada na propriedade privada, e não nos interesses coletivos. “O que domina a sociedade é a burguesia. São impossíveis a fraternidade e a solidariedade no sistema capitalista, porque ele visa o lucro”. Dirceu verificou ainda a ausência de hospitais públicos em sua cidade natal, onde existem apenas dois, ambos da rede particular. “A grande luta, de fato, é pelo hospital público do Sus, com participação maior”, ponderou.
 
Também filiado à agremiação socialista, o presidente do Centro de Estudos Culturais Linguísticos Surdos (Ceclis), professor Milton Bezerra Filho, prestigiou o encontro. De acordo com Lídice, que encerrou o seminário, o PSB contribuiu decisivamente na implantação e na efetivação do Sus. “Esse debate se faz necessário para que nós possamos renovar o compromisso do PSB com a saúde”, assegurou a senadora.

Comentários

Hugo Gonçalves disse…
Esta ótima Hugo . Obrigada .

Márcia Araújo
Hugo Gonçalves disse…
Parabéns Hugo. Seu texto ficou show de bola!

Aurelio Nunes - jornalista
Ascom Lídice Senadora
(71) 8779-6445