Iniciativa permite inclusão de deficientes auditivos no trânsito

Em parceria inédita entre o Ceclis e a EPTran, segunda etapa do projeto foi apresentada ontem e capacitará médicos e psicólogos para atender portadores

Evento de apresentação da segunda fase do projeto contou com a participação de especialistas, não ouvintes e interessados no assunto
(Foto: Hugo Gonçalves)
 
Oportunizar o acesso dos deficientes auditivos à primeira habilitação. Essa é a finalidade do projeto de inserção social desses portadores de necessidades especiais, cuja segunda etapa foi apresentada na tarde desta quinta-feira (25), na Escola Pública de Trânsito (EPTran), na sede do Departamento Estadual de Trânsito da Bahia (Detran-BA), no Iguatemi.
 
Resultado de uma parceria inédita entre o Centro de Estudos Culturais Linguísticos Surdos (Ceclis) e a única escola de trânsito pertencente a um governo no país, a iniciativa, pioneira no estado, nasceu de uma exigência abortada por gestões anteriores do Detran, que foi viabilizada pela atual administração.
 
Com a presença de portadores de deficiência auditiva e de interessados no tema, a apresentação teve como palestrantes o presidente do Ceclis, professor Milton Bezerra Filho, a coordenadora do Núcleo de Saúde do Surdo da instituição, a psicóloga Márcia Araújo, e a diretora da EPTran, Ana Cristina Regueira. “O sonho do surdo é ir à escola”, proclamou Márcia.
 
O projeto, de acordo com Ana Regueira, foi iniciado em 2009 em caráter experimental e incorporado à escola no ano subsequente. “Primeiro, nós obtivemos as informações, da mesma forma que estamos fazendo aqui hoje (ontem), convidamos os surdos para participar do projeto e disponibilizamos tradutores na língua de Libras para facilitar a comunicação e o entendimento de todo o processo de habilitação”, afirmou.
 
Agora, em sua segunda fase, o programa de inclusão dos deficientes auditivos ao acesso à primeira habilitação objetiva capacitar os profissionais da área de saúde para realizar o atendimento médico e psicológico de cada indivíduo.
 
Conforme a diretora da EPTran, a escola não dispõe de motos e oferece cursos de formação de condutores com permissão para dirigir apenas veículos de passeio (categoria B). “Se o governo disponibilizar, haverá cursos de condução de motos para surdos”, ressaltou.
 
Para obterem sua primeira habilitação, deficientes auditivos irão conduzir somente veículos de passeio
(Foto: Hugo Gonçalves)
 
Cursos gratuitos
 
Em breve, o Detran promoverá gratuitamente cursos de primeira habilitação para os não ouvintes, que será uma forma de inclusão dessa minoria social no mercado de trabalho. Os períodos serão disponibilizados no cronograma anual de cursos da EPTran.
 
As aulas teóricas, com carga horária de 40 horas, terão um quantitativo de 10 alunos por turma, totalizando 40 alunos por sala. Seu conteúdo programático contemplará cinco disciplinas: Legislação, Direção Defensiva, Meio Ambiente e Cidadania, Noções de Primeiros Socorros e Mecânica Básica. Além disso, sua metodologia será reforçada por uma intérprete de língua brasileira de sinais (Libras).
 
Quanto às aulas práticas, elas serão ministradas com carga horária de 20 horas. Haverá, ainda, tradutor individual de Libras na prova de Legislação. Já que a escola de trânsito funciona em todos os três turnos – matutino, vespertino e noturno –, para Ana, o ideal é que o aluno escolha com cuidado um só turno. Ela afirma que, ao obter sua primeira habilitação, os deficientes auditivos são capacitados com os conhecimentos que a lei exige para tal.
 
De acordo com a diretora da EPTran, atualmente existem muitos acidentes de trânsito cometidos por pessoas que não respeitam as regras. “Às vezes as pessoas acham que têm regras próprias. Então, nós temos que perceber que o Contran (Conselho Nacional de Trânsito), que é a lei maior do trânsito, faz as leis e nós devemos cumpri-las”, explicou.
 
Para que o deficiente auditivo seja reconhecido como aluno participante do projeto, é obrigatória a emissão de um registro nacional, o laudo, que custa R$ 95. “Através desse laudo, você vai poder fazer os exames médicos e psicológicos gratuitos, assistir às aulas teóricas e passar na prova de Legislação. Com 70% dos acertos, você terá direito a aulas práticas”, disse.

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