Bem-vinda, Gaby, ao júri do Astros

Graças ao estrelato conquistado em todo o país, a cantora paraense Gaby Amarantos se torna membro de honra do programa do SBT que revela novos nomes da canção popular
(Foto: Divulgação)

"Saia vermelha, camisa preta / Chegou pra abalar / Quando tu for na casa dela lhe buscar / Ela vai preparar / Café coado na calcinha / Pra te enfeitiçar // E quando tu for na aparelhagem / Tu vai ver só o que ela vai aprontar / Saia vermelha, camisa preta / Chegou pra abalar // (...) // Eu vou samplear, eu vou te roubar!"

Foi com esses versos informais, coloquiais, superficiais e divertidos acima, atribuídos a um anônimo pernambucano chamado Zé Cafofinho, que a eletrizante cantora e compositora paraense Gabriela Amaral dos Santos, 33 anos, conhecida artisticamente por Gaby Amarantos, musa-símbolo de um estilo inovador, o tecnomelody, abriu o programa Astros, exibido ontem em rede pelo Sistema Brasileiro de Televisão (SBT), em um pleno estúdio multicolorido com iluminação fluorescente, bom pretexto para fazer da noite uma oportunidade jovial e descontraída.

Com seu figurino despojado, sóbrio e sem nenhum ingrediente supérfluo que lhe desse extravagância, Gaby Amarantos, oriunda de uma comunidade encravada nos subúrbios de Belém, o bairro do Jurunas, aportou na megalópole paulistana especialmente com o intuito de energizar a atração reveladora dos novos - em sua maioria fabricados pela emissora do superbilionário Sílvio Santos - talentos da música brasileira. Logo após entoar, com sua voz potente e inigualável, o frenético número Xirley, alusão à personagem fictícia homônima, a Beyoncé do Pará acabou se incorporando ao panteão de jurados. Sua nova missão: avaliar os calouros.

O apresentador do Astros, o ex-VJ da MTV André Vasco, a recebeu com saudações dignas de honra e declarou com orgulho que ela, promovida a jurada honorária, "é a prova viva dos produtores musicais, dessa galera que manja muito", tanto que eles mesmos, personificados no júri por Carlos Eduardo Miranda, Arnaldo Saccomani, Thomas Roth e Cyz Zamorano, parabenizaram a cantora, autointitulada "estrela do Pará", exímia promessa da órbita musical tupiniquim.

Quanto a Miranda, um gaúcho plácido aclimatado na Pauliceia desvairada e difusor de dezenas de astros do rock nacional nos anos 1990 e 2000, ele se encarregou da direção do álbum de estreia solo de Gaby, batizado intencionalmente de Treme, grito de guerra da intérprete, do qual Xirley é uma das faixas - talvez a de abertura. Temos ansiosa expectativa de que esse biscoito fino, prestes a ser lançado em abril, seja solidamente um divisor de águas na fascinante jornada da miscigenada amazônica - em sua fisionomia vemos um semblante autóctone, nativo, indígena - até então limitada ao ciberespaço.

Ao ensaiar bastante para se obter um espetáculo brilhante, luminoso, sedutor e de excelente repercussão no programa, os calouros "têm que ter coragem - viu, minha gente -, persistência e, com essas feras aqui produzindo, meu irnão? Aí não tem pra ninguém", como frisou a polivalente Gaby Amarantos, se valendo de indefectíveis dicção, eloquência, consonância, carisma e, acima de tudo, um perfeito talento, matéria e obra-prima de qualquer artista. Uma demonstração certeira de otimismo e bom caráter.

"Que plateia animada, viu? Que coisa boa!", mais uma prova de que o público, impregnado de sinceridade, empatia, empolgação e vibração, está se rendendo à inacreditável formosura de uma moça silvestre que, vinda dos confins da Amazônia, de repente logrou instantâneo alcance em todo o Brasil e até no exterior, com predominância nos Estados Unidos, na Europa e no Japão, com seu gênero peculiar, o tecnomelody, híbrido das batidas eletrônicas emanadas dos disc-jockeys, os DJs, com a sonoridade equatorial brasileira, adquirindo influências expressivas do brega (contudo não estou estereotipando o estilo dela).

Como Gaby passou a ser uma unanimidade no ramo artístico-cultural-comunicativo-informativo? Muitos fatores hipotetizam esse estrelato, mas foi pelas mãos abençoadas e, óbvio, pela fama de caçador e garimpeiro de talentos entregue a Miranda, um dos jurados fixos do Astros, que ela se deslocou do remoto Pará para alçar voo em escala nacional a partir do Centro-Sul do país. "(Gaby) Era um furacão, hoje um tsunami", conta Miranda, um visionário da nossa indústria fonográfica contemporânea, cuja reputação foi compensada pela exploração cuidadosa de cantores e conjuntos desconhecidos e de sua rápida e consequente disseminação.

O cérebro supremo do júri da atração, célebre e cativante também por sua vasta cabeleira, sua barba e seu bigode, todos grisalhos, rumo ao seu cinquentenário, festejado no dia 21 deste corrente mês, não poupou virtudes e congratulações a Gaby Amarantos, além de enfatizar o talento, a mais importante das qualidades da diva da floresta, uma mulher esbelta e contagiante. "Ela faz por ela muito mais que qualquer artista que eu conheci na minha vida, uma mulher batalhadora", destacou Miranda, emblema da moderna geração de produtores. Palavra do mestre para a dedicada discípula Gaby!

Comentários