Esfria briga pela posse das Ilhas Malvinas

Duelo entre argentinos e britânicos sobre o arquipélago será dissipado após o aniversário do conflito armado entre os dois países, diz especialista latino-americano

Com informações do UOL e da Wikipédia

As animosidades entre a Argentina e o Reino Unido sobre as Ilhas Malvinas, no Atlântico Sul, deverão se flexibilizar em breve. O uruguaio Francisco Panizza, professor especializado em política da América Latina da London School of Economics, afirmou ao portal UOL que a tensão referente à disputa da posse do arquipélago diminuirá logo após o trigésimo aniversário da Guerra das Malvinas, em abril.

Segundo Panizza, a questão da guerra, que em janeiro retomou as discussões políticas e diplomáticas entre as duas nações, se refere a uma pendência de cunho político pela soberania da região, chamada pelos britânicos de Falklands. "O Reino Unido aproveita a data para reafirmar o seu controle sobre a região, mas nenhum dos dois governos tem interesse real em ir para a guerra novamente", argumenta.

Durante 74 dias de conflito armado, no período de 2 de abril a 14 de junho de 1982, 255 soldados britânicos, 649 argentinos e 3 civis do arquipélago, sob a custódia de Londres desde 1833, tiveram suas vidas sacrificadas. Além disso, no final, a vitória inglesa reafirmou o domínio do território, favorecendo, nas eleições parlamentares do mesmo ano, o triunfo do Partido Conservador, da então primeira-ministra Margaret Thatcher.

A derrota argentina na Guerra das Malvinas trouxe consequências positivas para a conjuntura política daquele país, como o declínio gradativo da Junta Militar que o governava - presidida por Leopoldo Galtieri (1981 a 1982) e posteriormente por Alfredo Saint-Jean (junho a julho de 1982) e Reynaldo Bignone (1982 a 1983) - e a restauração da democracia em dezembro de 1983, com a ascensão no poder de Raúl Alfonsín, primeiro presidente eleito por via direta após o Golpe de Estado de 1976.

Sentimento nacionalista

Professor da Universidade de Cambridge, na Inglaterra, o historiador Andrew Thompson esclarece que a volta da questão sobre a disputa nas ilhas serve para manter a supremacia inglesa no território. "É também uma maneira de assegurar a sua identidade nacional, num momento em que a Escócia define se conduzirá um referendo sobre a sua independência, e até distrair a opinião pública diante de um cenário interno de crise econômica", afirma Thompson ao UOL.

Outro fator contribuinte no aquecimento do combate pela posse do arquipélago do Atlântico Sul, na acepção do acadêmico, foi a exploração de petróleo na sua costa. Um moderno submarino de guerra desembarcou recentemente às Malvinas, enviado pelo Reino Unido, e o príncipe William, atuando como piloto de helicóptero, se estabeleceu na região desde o início deste mês, efetuando exercícios de rotina.

O historiador Robert Jobson, especialista em assuntos da monarquia britânica, observa a presença do príncipe, o segundo na sucessão do trono, como desnecessária. "O Reino Unido está no direito de preservar a legitimidade do seu território, mas não era preciso enviar um futuro rei (William) em seu uniforme para lá", justifica. Quase 30 anos depois da guerra, a maioria dos 3 mil moradores reivindica o permanente controle britânico no local, pois Londres rejeita a negociação com Buenos Aires quanto à sua dominação.

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