Setor em expansão acelerada

Estudos recentes revelam que a construção civil, além de acompanhar o crescimento do país, é responsável pela geração de mais de 6.656 postos de trabalho em Salvador e Região Metropolitana

Carole Lago, David Mendes, Helton Carlos, Hugo Gonçalves, Laís Amorim, Lorenlai Caribé e Luiz Oliveira
Estudantes de Jornalismo do Centro Universitário Jorge Amado (Unijorge)

Grande reportagem elaborada coletivamente e orientada pelo professor Luiz Teles, docente da disciplina Práticas Avançadas de Reportagem

O segmento da construção civil na Bahia, sobretudo em Salvador e na Região Metropolitana, acompanha a sua dinâmica em todo o território brasileiro. Em 2010, o Produto Interno Bruto (PIB) do setor no estado cresceu 14,6%, de acordo com o Sindicato da Indústria da Construção do Estado da Bahia (Sinduscon-BA). No segundo trimestre de 2011 – somando-se os percentuais obtidos em abril, maio e junho –, esse aumento, também conforme o sindicato, chegou ao patamar dos 4,8%.

De acordo com dados do Cadastro Geral dos Empregados e Desempregados (Caged), divulgados pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), a Bahia, em 2010, impulsionou a geração de 123.947 vagas formais de trabalho, considerando as declarações entregues fora do prazo. A construção civil equivaleu a 22,8% destas vagas. No período compreendido entre janeiro e setembro de 2011, o número de vagas formais de trabalho foi igual a 80.036, sendo a participação da construção civil de 12,4%.

Ainda segundo estimativas do Caged, foram acumuladas 28.255 vagas formais da construção civil na Bahia em 2010, também levando em conta as declarações entregues fora do prazo. O setor, no estado, correspondeu a 8,5% do número de vagas de trabalho da construção civil do Brasil com carteira assinada, em 2010. No período de janeiro a setembro de 2011, o número de vagas formais do setor da construção civil na Bahia equivaleu a 9.914.

O município de Salvador foi responsável pela geração de 8.876 vagas formais de trabalho do setor da construção civil em 2010. No período de janeiro a setembro de 2011, esse número foi igual a 4.035 vagas formais. Na Região Metropolitana, em 2010, foram criadas 21.556 vagas formais de trabalho no setor. Já no período de janeiro a setembro de 2011 o número de vagas formais foi de 6.656.

Em Camaçari, um dos 13 municípios integrantes da Região Metropolitana de Salvador, a Construção Civil foi o segmento da economia que mais gerou postos de trabalho, contabilizando 340 vagas em setembro, de acordo com o Boletim Mensal do Caged, divulgado pela Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia (Sei).

Saldo positivo

Segundo dados divulgados pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), o mercado de trabalho formal da Bahia, no mês de junho de 2011, teve seu segundo melhor saldo em 10 anos. Esse saldo do estado é o maior do Nordeste, representando 29,4% do total dos postos de trabalho e colocando a Bahia na liderança de geração de empregos da região.

O setor que mais criou empregos no estado, para o Dieese, foi a Agropecuária, responsável por 41,5% do total de vagas naquele período. Do saldo positivo de 11.767 empregos no estado, os 4.890 postos de trabalho gerados pela Agropecuária são seguidos pelo setor de Serviços, composto por 2.571 vagas, e pela Indústria, com 2.004.

Entretanto, na Região Metropolitana de Salvador (RMS), onde foram gerados 28% do total de vagas no estado da Bahia, correspondentes a 3.294 postos de trabalho, melhor número do mês no período de 10 anos, houve saldo negativo na Agropecuária, com a redução de 29 postos de trabalho.

O levantamento do Dieese revelou ainda que o setor de Serviços foi o que teve o melhor saldo de vagas empregatícias na RMS em junho, seguido da Construção Civil. Esse último segmento apresentou 712 novos postos de trabalho no mês, equivalente a 21,6%.

A Sei realizou a Pesquisa de Emprego e Desemprego (PED) referente a setembro de 2011, que consiste na compilação de dados mais atuais ainda do que os divulgados em junho pelo Dieese. De acordo com a PED, o nível de ocupação na Região Metropolitana de Salvador subiu 0,9%. A geração de 182 mil ocupações superou o número de pessoas que ingressou no mercado de trabalho – 130 mil –, resultando na redução do contingente de desempregados em 52 mil pessoas.

Quanto à taxa de desemprego total da RMS, informações recentes captadas pelo levantamento, realizado pela Sei em parceria com o Dieese, a Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados (Seade), órgão do governo de São Paulo, e a Secretaria do Trabalho, Emprego, Renda e Esporte da Bahia (Setre), mostraram que, em agosto, ela foi de 15,6% da População Economicamente Ativa (PEA), percentual idêntico ao do mês anterior.

Essa foi a menor taxa de desemprego total registrada para o mês de agosto ao longo da série da PED referente à Grande Salvador, iniciada em dezembro de 1996. Segundo suas componentes, houve aumento na taxa de desemprego aberto (pessoas que procuraram trabalho efetivo nos 30 dias anteriores ao da entrevista e não exerceram nenhuma ocupação na última semana), que passou de 10,6% para 11,0%, e redução na de desemprego oculto (precário e por desalento) de 5,0% para 4,6%

Também em agosto, a taxa de participação – indicador que estabelece a proporção de pessoas com idade igual ou superior a 10 anos presentes no mercado de trabalho como ocupadas ou desempregadas – oscilou de 56,3% para 56,9%. O contingente ocupacional, naquele mês, foi calculado em 1.594 mil pessoas, 20 mil a mais do que em julho.

Segundo os principais setores de atividade econômica analisados na PED, o nível ocupacional elevou-se nos seguintes setores: Serviços, com 19 mil empregados, correspondendo a 2,1%, Construção Civil (5 mil ou 4,1%), Comércio (2 mil ou 0,8%), além do quesito Outros Setores, que inclui serviços domésticos e outras atividades (1 mil ou 0,7%); e decresceu na Indústria (7 mil ou 4,9%). A Construção Civil, na mesma pesquisa, aparece em segundo lugar.

Insuficiência de mão de obra

Salvador vive hoje um dilema paradoxal. Enquanto a capital baiana disputa com o Recife, em Pernambuco, o posto de líder nacional do desemprego, segundo pesquisa divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em janeiro de 2011, a cidade acumula diversos empreendimentos imobiliários atrasados em consequência da pouca mão de obra especializada. Existe aproximadamente um déficit de 5 a 10 mil trabalhadores qualificados no mercado soteropolitano. A RMS apresentou a maior taxa de desemprego em janeiro, estimada em 10,7%. No restante do país a taxa ficou em 6,1%, segundo dados do instituto.

Prevendo o futuro prejuízo, as construtoras iniciaram operações de emergência com a intenção de preencher o vazio das obras. Ao contratar operários com faixa etária superior a 35 anos e profissionais com baixo nível de escolaridade, as construtoras estão se abdicando de uma qualidade aprimorada no serviço.

O mestre de obras Edenílson Neves dos Santos, 43 anos, é um claro exemplo dessa situação. Ele classifica a atual conjuntura do setor imobiliário de Salvador como ótima por oferecer várias oportunidades de emprego na construção civil. Com um filho adolescente de 18 anos, ingressando na profissão como pedreiro, ele ganha mensalmente o salário para lhe sustentar, assim como sua família, que por muito tempo passou necessidades.

Antigamente, as construtoras contrataram apenas profissionais capacitados na área. Porém, cada vez mais pessoas inexperientes estão trabalhando devido à carência de mão de obra qualificada. “Minha família passou necessidade por muito tempo e hoje consigo me manter com o dinheirinho que ganho aqui. Agora que meu filho de 18 anos também está trabalhando, ficou ainda melhor. Mas tem o lado ruim nisso tudo também. Muita gente chega aqui sem experiência alguma, fazendo o trabalho dos outros mais cansativo e demorado”, justifica Edenílson.

No setor de construção, devem ser efetuadas melhorias necessárias, em especial a segurança, de acordo com o mestre de obras. “Já tive colegas que se machucaram feio trabalhando e é algo que não desejo a ninguém. Algumas construtoras não passam uma sensação de segurança para os operários. Acho que um aumento no salário seria bem vindo, já que arriscamos nossas vidas”, explica.

Em virtude da falta de capacitação dos operários da construção civil, são oferecidos cursos pelos quais pretendem aperfeiçoar a mão de obra e aumentar as chances de ingressar no mercado de trabalho. Para os cursos de pedreiro, pintor de obras e carpinteiro de fôrmas de concreto armado, ofertados pela unidade do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) no bairro de Dendezeiros, Cidade Baixa, os candidatos precisam estar desempregados, ser de baixa renda, ter idade superior a 18 anos e Ensino Fundamental incompleto.

Já o Home Center Ferreira Costa, localizado na Avenida Paralela, promove, por meio do Clube do Profissional, cursos, palestras e oficinas de alvenaria, ambientação, decoração, elétrica, hidráulica, impermeabilização, marcenaria e pintura. “O objetivo da iniciativa é promover atualização com relação a técnicas e produtos, oferecendo aos seus clientes um portfólio de produtos e serviços mais amplo”, explica o responsável pelo Setor de Relacionamento da empresa, Carlos Daniel.

O mercado imobiliário evolui

De acordo com pesquisa realizada pela Associação dos Dirigentes de Empresas do Mercado Imobiliário da Bahia (Ademi-BA), só em Salvador foram lançadas 14.619 novas unidades habitacionais em 2010. As vendas de imóveis novos em 2010 totalizaram 12.879 unidades. Até julho de 2011, o número de lançamentos foi de 5.152 novas unidades habitacionais, sendo comercializadas 5.225 unidades.

No ano de 2009, a Prefeitura de Salvador, através da Superintendência de Controle e Ordenamento do Uso do Solo do Município (Sucom), autorizou 565 alvarás para novas construções. Já em 2010, foram liberados 627 alvarás, ou seja, o crescimento foi de 11% em relação ao ano anterior. No período de janeiro a agosto de 2011, esse número foi igual a 483 alvarás.

A Bahia foi o estado que teve maior participação (39,8%) do total de financiamentos imobiliários – construção e aquisição – com recursos do Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo na Região Nordeste em 2009. Em relação ao Brasil, sua participação foi de 4,1%. Em 2010, a participação foi de 34,1% em relação ao Nordeste e 4,1% em relação ao Brasil. Entre os meses de janeiro e maio deste ano, sua participação do estado em relação ao Nordeste foi de 39,8% e 5,2%, em comparação com o total nacional.

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