Nadja Vladi explica os horizontes do jornalismo cultural

Em meio a uma plateia de poucos alunos, jornalista e professora, que coordena uma publicação de cultura e variedades, ministrou anteontem, na Unijorge, palestra sobre o assunto, na estreia do 6º Interculte

Jornalismo cultural, sua importância, sua atual situação e seus desafios. Enfocando essa temática que abrange segmentações artísticas distintas, a jornalista e professora Nadja Vladi ministrou uma palestra nesta terça-feira (18), no Campus Paralela do Centro Universitário Jorge Amado (Unijorge), durante o início do 6º Encontro Interdisciplinar de Cultura, Tecnologias e Educação (Interculte), organizado pela referida instituição de ensino superior.

Diante de uma plateia composta por um irrisório percentual de alunos, ela esclareceu que dentro do jornalismo cultural há uma pluralidade de vertentes, tendências e expressões atreladas à arte. Trata-se de um vasto repertório, no qual se englobam a música, a literatura, o teatro, as artes visuais ou plásticas, o cinema, a dança e até a moda, a gastronomia e a cultura digital.

Conforme Nadja, as múltiplas especificidades da imprensa cultural induzem os leitores a obter e esclarecer informações a respeito do universo artístico, refletir acerca dos movimentos culturais, interpretar a cultura de uma época e desenvolver a produção artística, além de impulsionar a ampliação do próprio público.

Especialização é necessária

A palestrante, professora do curso de Jornalismo da Unijorge e editora-coordenadora da revista semanal de variedades Muito, publicada no jornal A Tarde, disse que, para quem está interessado a fazer um trabalho robusto vocacionado para a cultura, é imprescindível que ele se especialize numa vertente. “Além do jornalismo, você deve ouvir música, ler livros, assistir a filmes, entender moda, para que você tenha acesso a esse repertório”.

Esse procedimento, de acordo com Nadja Vladi, acontece de modo indiferente em outras categorias. Por exemplo, jornalistas especializados em artes visuais devem entender aspectos de história da arte e estética, bases para se adquirir um processo artístico; e àqueles interessados em dança têm que conhecer detalhadamente os movimentos clássicos.

Os periódicos da Bahia, em se tratando de cultura, dão mais ênfase para a música, o teatro e o cinema, na contramão de outros estados, a exemplo de São Paulo, onde jornais também valorizam demais segmentos, como a gastronomia.

No que tange os movimentos artísticos de uma época, Nadja mencionou dois deles, ambos ligados à música brasileira – o tropicalismo (ou tropicália) e o mangue beat. O primeiro, datado dos anos 1960 e que incluía músicos do calibre de Caetano Veloso, Gilberto Gil, Tom Zé e Mutantes, absorveu elementos nativos, influenciados pela Semana de Arte Moderna de 1922, e estrangeiros, com predominância no rock.

Todavia, o mangue beat, germinado e frutificado em Pernambuco na década de 1990 e tendo o cantor e compositor Chico Science (1967-1997) como um de seus expoentes e propagadores, é uma releitura do movimento tropicalista. “Tudo que vai escrever sobre música, você vai entender sua história, sua contextualização”, afirma a jornalista e professora.

O curioso, para Nadja, é que a cobertura do pagode está excluída dos cadernos específicos, apesar de ele ser um dos gêneros musicais mais ouvidos no estado. “A Bahia é um estado que ouve pagode, axé music e pouco rock”, ressalta.

Questões e desafios do setor

Em relação ao público, o jornalismo cultural, além de difundir a cultura e torná-la acessível para as audiências, estabelece argumentos fomentadores do cenário artístico. Dentre suas questões mais relevantes estão a sintonia com a agenda das indústrias culturais, reportagens com alto teor informativo, menos visibilidade para a crítica e amplo espaço para roteiros de espetáculos.

Na palestra ainda foram explanados os desafios dessa vertente jornalística. Ao mesmo tempo em que o jornalismo cultural abre espaço para a valorização identitária, a cultura popular, o debate de ideias e a contraposição a tendências, ele enseja o aprofundamento e as reflexões concernentes às manifestações culturais, amplia e irradia sua cobertura e torna-se mais provocador e mais crítico, refletindo sobre a cidade.

Focalizada na identidade baiana, utilizando a cidade de Salvador como referência importante, a revista Muito, que circula aos domingos, “não trabalha com o agendamento, ao contrário do Caderno 2 (caderno cultural de A Tarde)”, na acepção de Nadja. Para ela, editora-coordenadora da Muito, a publicação semanal, “segunda mais lida da Bahia”, ficando atrás somente da gigante Veja, procura ter vocação cosmopolita.

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