Onde domina a paciência

Me sinto bastante alegre quando eu, meu irmão e meus pais passamos momentos inacreditáveis na casa da ilha, cuja fachada é tingida de um radiante amarelo escuro, tom que combina com a alta estação. Situado numa rua tranquila sem pavimentação, ao ser comparado com lugares civilizados, o nosso aprazível recanto de repouso, lazer e diversão me enche completamente de coisas benéficas, como encontros particulares em família, churrascos, confraternizações e passeios pela região, inclusive a praia de água e areia límpidas.

Enquanto estou veraneando por lá, uso raramente o computador, o papel e a caneta, ou, ocasionalmente, abdico-me dessas ferramentas imprescindíveis para solidificar uma razão desejada, pois o forte do nosso lar insular é sobretudo a interação lúdica, ou seja, fugir da clássica rotina dominada em grande parte por compromissos. A jovial e arejada casa, cujo teto é completamente revestido de telha cerâmica como resistência às chuvas e às intempéries, exceto os sanitários das suítes, me faz respirar agradáveis sensações de conforto e bem-estar.

Jamais reproduzo meu estilo de vida típico da nossa residência fixa, aqui na metrópole, no nosso retiro particular da ilha – as maneiras de viver adaptadas aos dois locais não são reciprocamente idênticas. Aqui na minha verdadeira casa imperam os estudos, o trabalho, os negócios e as obrigações que fazem da minha alma e do meu espírito uma genuína usina de sobrecargas. Na direção contrária, transformamos a casa amarela, rodeada de capim com aroma rural, em belo cenário de pura e espontânea diversão.

Quase todas as vezes que nos deslocamos da península para a casa da ilha, principalmente nas noites de sexta-feira quando há feriadões, temos momentos gastronômicos chiquérrimos. Em um deles, saboreamos uma deliciosa torta de frango em formato retangular, cuja massa substanciosa é pincelada com gema de ovo, acompanhada de feijão, arroz (este cereal eu não tenho coragem de comer) e macarrão que trazemos daqui da residência, somados a uma leve salada de alface, tomate e cebola, preparada na hora. Como bebida para encerrar a requintada refeição e dar-lhe um contorno refrescante, um exuberante suco de uva concentrado.

Do lado exterior ao meu habitáculo de lazer, o verde do capim autenticamente rústico invade o terreno, da varanda, na frente, até o quintal, onde são criadas aves, muitas delas úteis para o consumo imediato. Galinhas, patos, pintos e marrecos, uma exótica coletânea ornitológica complementando a vida humana na zona semirrural. Lá na vivenda não há nenhum cachorro como animal de estimação, assim como foi na minha época de criança, ou um mero vigia, mecanismo controlado por motociclistas noturnos na rua onde se situa a casa. Só aves, ora dóceis, ora rebeldes ou briguentas.

Todo esse prodigioso horizonte que consta nas nossas estadias à ilha se converterá num soberano atalho de acesso à minha decente perspectiva. Assim como os outros bens patrimoniais, o terreno onde se encontra o lar de veraneio teve sua materialização alcançada por um fértil, fecundo e frutificante desejo de nos sobreviver, delimitado por horizontes norteadores de episódios que gerem felicidade e boa sorte. Sempre somos mensageiros do formoso fascínio contemplado pela sabedoria divina.

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