Uma lição solidária no Quênia

Solidariedade britânica na luta contra a Aids e ajuda humanitária no país africano são fios condutores do comovente filme O jardineiro fiel, de Fernando Meirelles

Dirigido pelo brasileiro Fernando Meirelles, o filme O jardineiro fiel (The constant gardener, Reino Unido/Alemanha, 2005) foi a primeira película em língua inglesa de um dos ilustríssimos cineastas da contemporaneidade, que conduzira o superagraciado Cidade de Deus (2002). O longa narra a saga de Justin Quayle, vivido pelo ator Ralph Fiennes, diplomata britânico em Nairóbi, capital do Quênia, que nas horas vagas exerce seus dotes botânicos, cultivando jardins. Justin tinha como esposa Tessa Quayle (Rachel Weisz), ativista humanitária.

Uma comitiva médica britânica, da qual Tessa era uma das integrantes, estava em missão no país africano violentamente castigado pela Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (Aids) com a finalidade não só de agir na amenização da enfermidade, mas também de prestar solidariedade e assistência sanitária à miserável população. Baseado no comovente romance homônimo do inglês John Le Carré, publicado em 2001, O jardineiro fiel desvenda, com um fabuloso panorama documental, que o Quênia, por ser subdesenvolvido, continua com seu serviço de saúde pública precário.

Em função das péssimas condições sociais no país, substantivamente da sua saúde, uma equipe vinda do avançado Reino Unido aportou, em princípio, num bairro pobre de Nairóbi. Quando a caminhonete que a transportava chegou no local, um nativo discriminou um membro da equipe médica britânica, chamando-o de "homem branco", por ser oriundo de um país mais rico, localizado na Europa. Casos sortidos de preconceito racial, como esse exposto no filme, ainda são manifestados em uma África preponderantemente negra e pobre.

Tessa, que acabou se apaixonando por Justin logo após um rápido desentendimento entre ambos em decorrência da política diplomática inglesa, foi brutalmente assassinada em situações controversas. Nas investigações relativas à morte misteriosa de sua esposa, o protagonista descobriu que ela estava envolvida numa investigação, feita em sigilo, sobre uma conspiração na qual magnatas de laboratórios farmacêuticos e governos internacionais estavam na mira.

Com quase 130 minutos de drama e suspense, a película faturou, em 2006, o Oscar e o Globo de Ouro na categoria Melhor Atriz Coadjuvante, entregues a Rachel Weisz, e o Bafta Awards, equivalente britânico do Oscar, na categoria Melhor Montagem.

Apesar de explanar uma variedade de dilemas traumatizadores da população queniana, a exemplo das duas epidemias, a Aids e o racismo, O jardineiro fiel remete-nos a uma promissora lição de altruísmo, coragem, união, sinceridade e respeito mútuo através da contribuição no aprimoramento da qualidade de vida de um triste, deprimente, necessitado e miserabilíssimo povo, detentor de um dos piores Índices de Desenvolvimento Humano (IDH).

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