Paguei tão caro em restaurante

Resolvi almoçar fora, num restaurante, porque estava com índice voraz de apetite determinado por meu organismo, enquanto cobria pela segunda vez, valendo-me dos dotes redacionais, uma feira de artes, na praça em frente a um shopping de pequeno porte onde o estabelecimento está localizado. No intervalo entre um e outro momento da cobertura, fui ao restaurante a fim de montar meu prato predileto, o mais delicioso possível, em regime self-service, e o saboreei. Todavia, paguei um preço caríssimo por causa da generosidade do meu prato.

Se eu passasse mais de uma hora à procura das fontes a serem entrevistadas na exposição, independentemente do seu quociente de intelectualidade, que foram, naquela ocasião, alguns artesãos e artesãs participantes, ficaria sem mecanismos necessários para a minha subsistência. Não há nenhum repórter passando fome durante as entrevistas, pois todo repórter deve também abastecer-se, literalmente, de alimentos, cruciais para o bem-estar físico e mental. Ele, em contrapartida, carece de provisões e suprimentos, fundamentos da preservação do equilíbrio corporal.

Com essa salutar premissa, me dirigi ao restaurante, obviamente, cujo ambiente é similar a um salão de festas, dando-lhe considerável comodidade. O recinto contém um pequeno depósito de bebidas, limitado por um balcão, assemelhando-se a sofisticados bares, mesas e cadeiras para as refeições da clientela e uma profusão de pratos quentes e saladas embutida no buffet. Assim como nas outras vezes que frequentei restaurantes a quilo, tive o privilégio de escolher a dedo, no buffet livre, os tesouros da culinária caseira, servindo-os generosamente num prato gigante de porcelana.

Estava com a previsão de que a comida no estabelecimento fosse econômica, ideia fixada nos meus neurônios e pairada sobre meus dispositivos sensoriais. Na hora de ir ao restaurante para a minha degustação, fora de casa, das gostosuras - já foram muitas vezes em que efetuei refeições nas ruas, sozinho ou acompanhado de meus pais e meu irmão - pensava que a comida a quilo, naquele local onde eu a devorei, pensava que a comida a quilo custasse um valor barato, módico, econômico, bem perto ou superior a R$ 10. Suspeitava-me num quantitativo mais conveniente durante a cobrança da tara.

Antes de me servir, porém, questionei ao churrasqueiro, incumbido da preparação dos grelhados - carnes, linguiças, aves, miúdos e peixes, tudo o que eu queria degustar -, quanto custa a refeição a quilo. O churrasqueiro, a posteriori, me respondeu que ela sai a partir de R$ 32, contrariando meus ambiciosos prognósticos. A cobrança do prato após seu peso, nesse restaurante, acabou não sendo economicamente fértil para mim e para outros seus clientes, mesmo estando sensibilizado, com minha fisionomia bem-educada, silenciosa e feliz.

Coloquei volumosas porções, considerando ser essenciais para suprir o meu impaciente, adorável e venerável apetite. De acordo com o cardápio vigente naquele dia, uma quinta-feira, penúltimo dia da feira de artes, servi o meu próprio almoço, constituído por um inconfundível cozido com pirão, carnes bovinas recobertas de gordura, rodelas de linguiça calabresa, couve e repolho, adicionado de farofa e de contrafilé bovino, linguiça calabresa suína, picanha suína e tilápia, todos grelhados. Jamais experimentei, até então, a picanha suína e a tilápia, um exótico peixe de água doce.

Minha generosidade é expressa também nas refeições que eu sirvo, sem confidências nem sigilos. Como consequência do enorme peso das porções, paguei, pela primeira vez, um preço tão altíssimo - R$ 32,79 -, tão salgado quanto os condimentos aplicados nas iguarias que eu saboreei. Somava-se ao prato caríssimo uma lata de refrigerante de limão, pagando R$ 3. No final das contas, veio o absurdo cúmulo do preço salgado: R$ 35,79, ou seja, meu prato de almoço acrescido de refrigerante em lata. Ou seja: ao almoçar em ambiente extradoméstico, eu mesmo quase corroí minha pretensa poupança mensal.

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