Jornalista Paulo Oliveira profere palestra

Evento conduzido hoje na Unijorge pelo secretário de redação de A Tarde e do Massa! enfocou os desafios atuais do jornalismo

O cotidiano dos jornalistas e a prática profissional nos dias de hoje foram discutidos por Paulo Oliveira
(Foto: Hugo Gonçalves)

Com vasta experiência em jornais, revistas e televisão, o jornalista carioca Paulo Oliveira da Silva, secretário de redação dos jornais A Tarde e Massa!, periódico popular do Grupo A Tarde, esclareceu em palestra os desafios pelos quais o jornalismo passa na atualidade. O evento aconteceu na manhã desta quarta-feira (27), no Auditório Zélia Gattai, situado no Campus Paralela do Centro Universitário Jorge Amado (Unijorge), como forma de homenagear o Dia Nacional do Jornalista, celebrado no dia 7.

Promovida pela coordenação dos cursos de Comunicação Social da instituição (Jornalismo, Publicidade e Propaganda e Produção Audiovisual), a palestra, intitulada “Os desafios do jornalismo na atualidade”, abordou o cotidiano dos jornalistas e o exercício da profissão nos dias de hoje. Estudantes dos referidos cursos, previamente inscritos, garantiram sua participação. Além dos discentes, a coordenadora Patrícia Barros Moraes e o jornalista Luiz Teles, editor de esportes de A Tarde e colega de trabalho de Paulo Oliveira, se juntaram à seleta plateia.

Quem tiveram a ideia de convidar Oliveira para ministrar o evento foram Patrícia e Teles, também professor da Unijorge. Ao introduzi-lo, a coordenadora dos cursos de Comunicação Social agradeceu a todos que compareceram ao auditório. O palestrante também pronunciou-lhes uma breve mensagem de agradecimento, e abriu a sessão discursando que o jornalismo está se adaptando aos novos tempos.

De acordo com ele, que atuou em periódicos do Rio de Janeiro, do Rio Grande do Sul e do Ceará antes de aportar na Bahia, os desafios dos jornalistas são iniciados com suas formações pessoal e profissional, a exemplo de leituras, intercâmbios e cursos universitários, de qualificação e de idiomas. “Alguns desafios que a gente passa começam com a formação, e tem que ir além”, pondera Oliveira.

Baixa remuneração

Os jornalistas checam, veem e emitem opiniões, mas, conforme pontuou o palestrante, o ofício por eles exercido não é o mais bem remunerado do mundo. É nos baixos salários que está, dentre outros fatores, o problema da formação profissional da categoria. Foram fixadas, na Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), jornadas diárias para jornalistas em um mínimo de 5 e máximo de 7 horas.

Profissionais do ramo, atualmente, alimentam novas tecnologias, como os sites, os blogs e as redes sociais. Materiais da internet e de periódicos convencionais são constantemente manejados para atender às exigências das redações de jornais populares. Paulo Oliveira frisou que a equipe de redação do Massa!, integrada por 22 pessoas sob a coordenação dele e do editor-executivo Ricardo Mendes, faz um levantamento de sites e blogs de Salvador e do interior baiano, além de buscar recursos de publicidade.

No evento, Oliveira citou que 240 jornalistas foram demitidos das redações dos principais veículos brasileiros, de acordo com dados revelados recentemente pelo portal especializado Comunique-se. As demissões ocorreram entre janeiro e abril nos jornais Meia Hora São Paulo, Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo, Agora São Paulo, Jornal de Brasília, Correio Braziliense e A Tarde, nas TVs Cultura, de São Paulo, e Sergipe, no Grupo Abril e no portal UOL.

As matérias de celebridades veiculadas na imprensa popular, por sua vez, provêm de informações de assessorias, tendo como efeito a velocidade no trabalho do jornalista, de acordo com Oliveira. Entretanto, para ele, utilizar esses materiais fornecidos por terceiros ocasionalmente pode causar a perda de credibilidade e reputação de um veículo.

Segundo o palestrante, os jornais da Bahia publicam notícias fúteis, sem o mínimo esclarecimento. Um exemplo recente de notícia desprovida de conteúdo informativo que ele mencionou foi a remoção da barba do governador Jaques Wagner (PT) a ser doada pelo Instituto Ayrton Senna.

Secretário de redação dos jornais A Tarde e Massa! foi convidado por Patrícia Moraes e Luiz Teles para conduzir evento
(Foto: Hugo Gonçalves)

Adaptando à nova era

Paulo Oliveira ressaltou a intuição do uso das novas tecnologias em veículos, proporcionando trabalhos fabulosos. No Rio de Janeiro, por exemplo, sua aplicação é maciça no jornalismo comunitário através de periódicos como O Cidadão, da favela da Maré, na Zona Norte da cidade, e por rádios comunitárias. Ricardo Noblat, de O Globo, um dos jornalistas de prestígio nacional, está 24 horas a serviço de seu blog específico tratando dos bastidores da política.

O exercício da profissão jornalística, para o secretário de redação de A Tarde e do Massa!, é surpreendente. “Cada coisa que a gente investe, cada coisa que a gente aprende é útil”, salienta. Ele explicou que, durante a ditadura militar, a resistência foi primordial na difusão de ideias. “A Folha (de S. Paulo) tomou posicionamento rigoroso, sendo o jornal de maior vendagem do país”, disse Oliveira. De acordo com ele, tal fenômeno foi impulsionado pela cobertura da campanha pelas eleições diretas, um dos anseios da população do Brasil no crepúsculo do regime arbitrário, entre 1983 e 1984.

Para o condutor da palestra, nenhum periódico publica de fato notícias totalmente boas. “Já foram feitas tentativas no Rio, no Dia, em publicar nele um caderno dominical”, lembrou Oliveira, referindo-se a um suplemento circulado aos domingos no jornal carioca O Dia, cujo conteúdo era repleto de notícias boas.

Conforme Paulo Oliveira, a melhor forma para se iniciar na profissão de jornalista são os estágios e os treinamentos (trainee) por meio de processo seletivo. Repórteres e editores do Massa!, pontua ele, foram selecionados de vários estados via currículo durante a montagem da sua equipe. Além da seleção de jornalistas, o emprego de uma segunda língua, como o inglês, bem como a consulta de manuais de redação, são imprescindíveis no ambiente redacional.

“Até alguns anos, o A Tarde detinha hegemonia em Salvador, e grande parte de sua equipe trabalhava em assessorias de imprensa”, disse o palestrante acerca da supremacia do outrora maior jornal do estado, hoje ameaçada pelo rival Correio*, da Rede Bahia. Segundo o jornalista, um dos atributos do crescimento na circulação do Correio* é seu baixo custo – R$ 0,50 de segunda-feira a sábado e R$ 1 aos domingos – em analogia com seus concorrentes, com ênfase para o A Tarde, que custa R$ 1,75 (segunda-feira a sábado) e R$ 2,75 (domingos).

Popular ignorado?

Há no jornalismo popular uma ignorância negativa crescente pelo fato de ele estar entrelaçado ao sensacionalismo e à espetacularização. Para Oliveira, o qualificativo de ruim para essa modalidade é indício de preconceito. Logo, grande parte das equipes de jornais populares vinha de bagagens na editoria de cultura, a exemplo do paulistano Notícias Populares, hoje extinto. “O papel do jornalista é traduzir essa linguagem, que é um outro idioma”, certificou a coordenadora dos cursos de Comunicação Social da Unijorge, Patrícia Moraes.

Oliveira explicou que a ideia de se criar um jornal especificamente popular na Bahia surgiu há quatro anos. Uma das razões que viabilizaram seu aparecimento foram de ordem econômica, social e cultural. Salvador era – e ainda é – uma cidade onde os jornais convencionais são caros e não possuem uma linguagem apropriada para os públicos vindos das camadas inferiores da sociedade.

Até o lançamento do Massa!, primeiro jornal popular baiano, em outubro de 2010, o segmento popular da imprensa local era centrado em programas televisivos com enfoque basicamente policialesco, como o Na mira, da TV Aratu, e o Se liga Bocão, da TV Itapoan. As manchetes do periódico de 24 páginas, publicado em formato berliner – quase um tabloide – constituem-se de até quatro palavras curtas, com máximo de 5 caracteres.

Nos primeiros dias em que o Massa! circulou, uma porção apreciável de estudantes e professores dos cursos de Comunicação, notadamente da Universidade Federal da Bahia (Ufba), queixaram-se da sua linha editorial e da sua diagramação, jurando ser confusa demais. Em relação à diagramação do periódico, de acordo com o palestrante, a paleta de cores nela empregada é condizente com o dia a dia das comunidades. Quase um ano e meio depois, o Massa! atinge 194 mil pessoas, correspondendo a 20% dos habitantes soteropolitanos.

Com o advento do regime militar, a partir de 1964, muitos periódicos populares foram empastelados. Como exemplo, Paulo Oliveira citou o caso do Última Hora, de Porto Alegre, que deu lugar ao Zero Hora, um dos maiores do país. Oliveira também comentou que os jornais clássicos transformaram-se em “jornais de gabinete”, por serem fruídos majoritariamente pelo público assinante.

Quando o jornalista proferiu as considerações finais da palestra, ele enfatizou as ambições dos estudantes de Jornalismo em visitar redações de veículos de comunicação e atuar no exterior, alguns dos desafios atuais da profissão. A coordenadora Patrícia Moraes encerrou o evento, fazendo com que ela e o palestrante fossem ovacionados por uma plateia repleta de estudantes interessados pelo assunto nele focalizado.

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