Itinerância sintetiza Bienal

29ª Bienal de São Paulo - Obras Selecionadas (Salvador) expõe no MAM-BA cerca de 70 peças, feitas por 14 artistas e extraídas de uma das tradicionais mostras do país

Está em cartaz, desde o dia 25 de março, no Museu de Arte Moderna da Bahia (MAM-BA), no Solar do Unhão, uma amostra sucinta das obras que foram expostas na 29ª Bienal Internacional de Arte de São Paulo, entre 25 de setembro e 12 de dezembro de 2010, no Pavilhão da Bienal, no Parque do Ibirapuera. Dentre as 850 peças atribuídas a 159 artistas de diversos países de todos os continentes, a curadoria, em parceria com o museu, selecionou, para a versão itinerante, denominada 29ª Bienal de São Paulo - Obras Selecionadas (Salvador), cerca de 70 obras elaboradas por 14 artistas.

Até agosto, 13 cidades brasileiras estão recebendo, pela primeira vez, a itinerância de uma das mais importantes exposições de artes visuais do Brasil. A cidade pioneira a hospedá-la neste ano foi Belo Horizonte, entre 19 de janeiro e 20 de março, seguida do Rio, onde a itinerância acontece de 19 de março a 15 de maio, de Salvador e de Juiz de Fora, no interior de Minas Gerais, entre 29 de março e 15 de maio. Porto Alegre, Recife e sete cidades do interior de São Paulo – Araraquara, Campinas, Piracicaba, Ribeirão Preto, Santos, São Carlos e São José dos Campos – também estão no rol de locais por onde o evento está percorrendo.

“Embora seja obviamente impossível o transporte integral de exposição tão extensa e complexa para outros lugares, o trabalho conjunto entre a curadoria da Bienal de São Paulo e as instituições que recebem esses recortes permite que seus visitantes tenham acesso a vários destaques e que desfrutem do contato próximo com algumas das mais relevantes produções da arte contemporânea brasileira e internacional”, pondera o economista pernambucano Moacir dos Anjos, um dos curadores da 29ª Bienal.

Um copo de mar

Com curadoria de Moacir e Agnaldo Farias, a 29ª Bienal de São Paulo - Obras Selecionadas tem como mote Há sempre um copo de mar para um homem navegar, versos extraídos do poema Invenção de Orfeu, do poeta modernista alagoano Jorge de Lima (1893-1953). “A arte (...) é aquilo que faz caber um oceano num copo de mar, ou seja, dentro de tão pouco é capaz de inventar um espaço gigantesco. O mote da Bienal é uma metáfora sobre essa utopia. Apesar de todas as adversidades, a arte é capaz de nos fazer ver outras possibilidades na vida”, conta Moacir, em entrevista à jornalista portuguesa Teresa Pearce de Azevedo.

A síntese soteropolitana, bem como as realizadas em outras cidades brasileiras, aborda os conceitos artísticos explicitados no Pavilhão da Bienal, no segundo semestre do ano passado, tendo como fio condutor a articulação entre a arte e a política. De acordo com Moacir dos Anjos, o MAM-BA está alojando uma seleção de obras condizentes com formas e atitudes diferenciadas pelas quais a arte tece, por si própria, uma organização política.

O curador salienta que as cidades onde está recebendo o projeto itinerante, inclusive Salvador, são escolhidas pelos próprios curadores em diálogo com as respectivas instituições expositivas segundo critérios físicos, históricos e culturais. "Nesse recorte, levaram-se em conta o foco original da 29ª Bienal de São Paulo e também as especificidades de cada localidade", diz Moacir. No caso do MAM-BA, em conformidade com ele, levaram-se em consideração, entre outros fatores, as condições de acolhimento às obras propiciadas pelo museu e os elementos híbridos da formação identitária da Bahia.

Estão sendo mostradas, nesse fragmento expositivo, peças elaboradas pelos seguintes artistas: Andrew Esiebo (Nigéria), Anri Sala (Albânia), Antônio Dias (Brasil), Apichatpong Weerasethakul (Tailândia), David Goldblatt (África do Sul), Douglas Gordon (Escócia), Enrique Jezik (Argentina), Gil Vicente (Brasil), Jean-Luc Godard (França), Mario García Torres (México), Marta Minujín (Argentina), Miguel Rio Branco (Espanha/Brasil), Sophie Ristelhueber (França) e o coletivo vanguardista argentino Tucumán Arde.

Em filme, cenário baiano

Uma das mais destacadas obras selecionadas para Salvador é o filme Nada levarei quando morrer aqueles que mim deve cobrarei no inferno (1979-1981), do cineasta, pintor, fotógrafo e criador de instalações multimídia espanhol radicado no Brasil Miguel Rio Branco. Na película de 20 minutos, Rio Branco usou como cenário o bairro do Pelourinho, no qual, conforme o release da itinerância, ele "revela o tempo marcado em cicatrizes nos corpos nus e nas construções em ruína", antes de a comunidade ser radicalmente restaurada, como se vê nos dias atuais. Para intensificar o fortalecimento da conexão cultural entre a Bahia e a África, dois fotógrafos daquele continente, o nigeriano Andrew Esiebo e o sul-africano David Goldblatt, impressionam os visitantes com suas imagens documentais.

Na antiga capela do complexo arquitetônico do Solar do Unhão, está sendo exposta uma criativa vídeo-instalação, idealizada pelo escocês Douglas Gordon. Seu nome completo é extenso: Pretty Much Every Film and Video Work From 1992 Until Now. To be Seen on Monitors, some with Headphones, Others Run Silently, and all Simultaneously, 1992 - ongoing. A espetacular obra, de grandeza incomensurável, é uma exposição monumental e retrospectiva, na qual cerca de 70 filmes e vídeos, conduzidos por Gordon nos últimos 18 anos, são contemplados em cada monitor.

A 29ª Bienal de São Paulo - Obras Selecionadas (Salvador) permanecerá até o dia 29 de maio, no MAM-BA, no Solar do Unhão, situado à Avenida Lafayette Coutinho, a Contorno, sem número, no Comércio. A entrada é franca e aberta ao público. Os dias e horários para a visitação da itinerância são: terças-feiras a domingos, das 13 às 19 horas, e sábados, das 13 às 21 horas.

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