José Alencar morre aos 79 anos

Ex-vice-presidente, que lutava contra um câncer no intestino há quase 14 anos, faleceu no Hospital Sírio Libanês, em São Paulo

Com informações das agências Estado e Globo

Último boletim divulgado pelo hospital anunciou que Alencar faleceu de câncer e falência múltipla dos órgãos
(Foto: Agência Brasil/Divulgação)

Morreu na tarde desta terça-feira, às 14 horas e 41 minutos, no Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, aos 79 anos, o ex-vice-presidente da República e empresário José Alencar (PRB). Conforme o último boletim médico, divulgado às 15 horas, Alencar faleceu "em decorrência de câncer e falência de múltiplos órgãos". O anúncio foi dado pelo oncologista Paulo Hoff, e assinado por Antônio Carlos Onofre e Paulo Ayrosa Galvão, diretores técnico e clínico do hospital, respectivamente.

O ex-vice-presidente encontrava-se internado desde ontem na Unidade de Terapia Intensiva (UTI). No momento, os médicos do Sírio-Libanês detectaram, no seu intestino, um quadro de obstrução com perfuração abdominal e peritonite, inflamação no peritônio, membrana protetora da cavidade do abdômen. Alencar, que também apresentava quadro de pressão arterial baixa, enfrentava um tumor intestinal desde 1997.

Na manhã desta terça-feira, Alencar estava se tratando com medicamentos analgésicos para aliviar a dor, deixando-o em estado sonolento. O médico-cirurgião Raul Cutait, que o acompanhava nas internações, cancelou qualquer operação cirúrgica devido ao seu estado grave de saúde. O último boletim referente à saúde do paciente foi divulgado pelo hospital, às 11:45. Segundo o informativo, ele estava sedado, sem dores e acompanhado dos seus familiares. Ele deixa a esposa, dona Mariza Campos Gomes da Silva, e os três filhos, Josué Christiano, Maria da Graça e Patrícia.

Se continuasse vivo, o empresário e político mineiro completaria 80 anos em outubro. Quando ele faleceu, a presidente Dilma Rousseff (PT) encontrava-se em Portugal, acompanhada do seu antecessor, Luiz Inácio Lula da Silva, em visitas oficiais à capital, Lisboa, e a Coimbra. José Alencar era vice durante os oito anos do governo Lula, entre 2003 e 2010.

Nunca cursou universidade

José Alencar Gomes da Silva nasceu em 17 de outubro de 1931, no distrito de Itamuri, município de Muriaé, na Zona da Mata de Minas Gerais. De origem humilde, nunca ostentou nenhum diploma universitário. Ele tornou-se conhecido em todo o Brasil ao ser indicado vice-presidente da República na chapa encabeçada por Lula, em 2002. Lula e Alencar, então filiado ao PL (atual PR), foram eleitos pela primeira vez naquele ano, no segundo turno.

A amizade entre eles se iniciou em 2000, durante cerimônia comemorativa aos 50 anos de vida empresarial, no Palácio das Artes, em Belo Horizonte. Somente em fevereiro de 2001, Alencar foi lançado pré-candidato à vice-presidência por Lula, ao visitar duas unidades fabris da Companhia de Tecidos Norte de Minas (Coteminas), fundada por ele em 1967, em Montes Claros, no norte de Minas, beneficiado pelos incentivos fiscais da Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste (Sudene), e em Natal, capital do Rio Grande do Norte.

Visita feita por Lula em 2001 fez com que o empresário mineiro fosse indicado à vice-presidência para as eleições do ano seguinte
(Foto: Agência Brasil)

Desde cedo no poder

Como dirigente de diversas entidades patronais, como o Sindicato da Indústria de Tecelagem de Minas Gerais e o Sistema Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), ele se envolveu na política. Em 1950, apoiou Getúlio Vargas (PTB) para presidente e Juscelino Kubitschek de Oliveira (PSD) para governador do estado, que foram eleitos. Cinco anos depois, foi um dos articuladores das eleições de JK e Bias Fortes, ambos do PSD, para seus respectivos cargos.

No pleito seguinte, em 1960, Alencar prestou solidariedade às campanhas do marechal Henrique Teixeira Lott (PSD) e do seu correligionário Tancredo Neves, para presidente e governador, respectivamente. Lott e Tancredo acabaram sendo derrotados por Jânio Quadros (PTN-UDN) e Magalhães Pinto (UDN). Na primeira eleição direta após 29 anos, em 1989, ele apoiou Ulysses Guimarães (PMDB) no primeiro turno e, no segundo, votou em Lula.

Alencar estreou em disputas eletivas em 1994, aos 63 anos, quando ele concorreu ao governo de Minas pelo PMDB. Contudo, ele perdeu para Eduardo Azeredo (PSDB), ficando em segundo lugar. As aspirações de ele ocupar o Palácio da Liberdade, à época centro das decisões mineiras, nunca se materializaram. Em 1998, elegeu-se senador, ainda pelo PMDB, com mais de 3 milhões de votos. Migrou para o PL em 2001, e no ano seguinte foi eleito vice-presidente da República.

Sua escolha como companheiro de chapa de Lula foi justificada pelo fato de ele ser vindo de uma região pobre, o norte de Minas, ser um bem-sucedido homem de negócios e proprietário de uma das gigantes corporações da indústria têxtil do país. Além disso, José Alencar foi indicado por Lula com o objetivo de angariar votos ao petista e assegurar o controle econômico-financeiro brasileiro. Foi, portanto, o interlocutor do que, em 2003, seria o futuro governo Lula com a classe dominante, estabelecendo um novo contrato social.

Durante a campanha que elegeu o pernambucano e ex-presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo e Diadema - no ABC paulista -, de proveniência humilde como Alencar, o então senador e candidato a vice a financiou em R$ 3 milhões. O comando da Coteminas, a partir de então, passou para seu filho Josué Gomes da Silva. Junto com Lula, Alencar percorreu dezenas de municípios brasileiros para garantir a vitória inédita do ex-operário.

Como vice-presidente

O empresário do setor têxtil foi empossado vice-presidente em 1º de janeiro de 2003. Quando ele assumiu interinamente o Planalto pela primeira vez, por conta da primeira viagem de Lula ao exterior para comparecer à posse do então presidente do Equador, Lucio Gutiérrez, abriu o Salão Leste do palácio para homenagear seu conterrâneo, o cantor e compositor Ary Barroso. Também foi ministro da Defesa, entre novembro de 2004 e março de 2006.

Abandonou o PL em setembro de 2005, filiando-se a uma nova legenda, o Partido Republicano Brasileiro (PRB), subordinada à Igreja Universal do Reino de Deus (Iurd), da qual era um dos fundadores e presidente de honra nacional.

A chapa Lula-Alencar foi reeleita em 2006, em segundo turno, pela Coligação A Força do Povo (PT-PRB-PC do B), com apoio informal de outras agremiações partidárias. Em 2010, ele colaborou na eleição da presidente Dilma. Até dezembro do mesmo ano, Alencar governou o Brasil em caráter provisório por 503 dias, sendo o vice recordista no exercício da Presidência da República. Segundo pesquisa realizada com informações do governo federal, ele superou os feitos de Marco Maciel (1995-2002), Delfim Moreira (1918-1919) e Aureliano Chaves (1979-1985), que permaneceram no cargo por 312, 194 e 181 dias, respectivamente.

Eleição de Dilma Rousseff teve papel fundamental do então vice-presidente (no centro, entre Dilma e Lula)
(Foto: Agência Brasil)

Luto e pesar

O prefeito de Muriaé, cidade mineira onde nasceu Alencar, José Braz (PP), decretou luto oficial de três dias. Em nota, ele "sempre contribuiu para sua cidade natal" quando foi vice-presidente, agilizando o repasse de recursos federais para projetos e obras no município. Diversas autoridades também manifestaram-lhe pêsames, entre ministros, deputados, senadores, dirigentes, prefeitos e governadores, em particular o tucano Antônio Anastasia, de Minas Gerais.

Na Câmara dos Deputados e na Assembleia Legislativa de Minas não foi diferente. O presidente da Câmara, deputado Marco Maia (PT-RS), cancelou as votações desta semana em virtude do falecimento do ex-vice-presidente da República. Para Maia, Alencar foi um "guerreiro, um lutador, que mostrou garra e resistência enormes", e ainda "foi a representação do que é a energia do povo brasileiro".

A Assembleia mineira suspendeu temporariamente suas atividades na tarde desta terça-feira por causa da morte de Alencar, um dos filhos ilustres daquele estado, segundo maior colégio eleitoral do país. Por essa razão, os deputados estaduais decidiram cancelar uma sessão extraordinária que estava prevista à noite na pauta da Casa. De acordo com a assessoria de imprensa da Assembleia, haverá uma sessão solene, no plenário, em homenagem ao político.

O corpo de Alencar será velado amanhã, às 9:30, no Palácio do Planalto, em Brasília, informa nota distribuída pelo Hospital Sírio-Libanês, onde morreu após um longo período internado na UTI. Ainda segundo o sanatório paulistano, a cerimônia fúnebre irá prosseguir nesta quinta-feira, 31. O velório, nesse dia, ocorrerá no Palácio da Liberdade, antiga sede do governo de Minas, em Belo Horizonte.

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