Baixada Fluminense tornou-se tema de piada

Paródia de comercial do presunto Sadia foi satirizada pela equipe do TV Pirata, tendo Diogo Vilela como protagonista

O programa humorístico TV Pirata, da Rede Globo, era um dos grandes e excelentes trunfos da televisão brasileira entre o final da década de 80 e o início da década de 90. Portanto, cultuava uma geração de telespectadores que chamavam a atenção em virtude de seu caráter revolucionário, tanto nas esquetes exibidas quanto em seu elenco sensacional.

Mesclava antológicas atuações performáticas de astros da emissora, como Cláudia Raia, Regina Casé, Marco Nanini, Luiz Fernando Guimarães, Diogo Vilela, Ney Latorraca, entre outros, temperado com o mais puro e sarcástico humor típico do período. Exibido em duas épocas diferentes, entre abril de 1988 e julho de 1990; e entre abril e dezembro de 1992, TV Pirata alcançou seu apogeu em sua primeira fase, a mais famosa.

Dirigido primorosamente por Guel Arraes, a inovadora atração que satirizava celebridades, comerciais e até mesmo outros programas globais, tinha, em sua equipe de redatores e colaboradores, nomes ilustres como Luís Fernando Veríssimo, Mauro Rasi (dramaturgo, falecido prematuramente aos 54 anos, em abril de 2003), Pedro Cardoso, Patrícia Travassos e o embrião do que é hoje o grupo Casseta & Planeta.

Na época, os atuais cassetas encontravam-se dissociados, trabalhando em duas publicações distintas de humor que obtiveram um estrondoso sucesso no Rio de Janeiro dos anos 80. Tratavam-se do Casseta Popular (Beto Silva, Bussunda, Cláudio Manoel, Hélio de la Peña e Marcelo Madureira) e do Planeta Diário (Hubert, Reinaldo e Cláudio Paiva).

Um exemplo da ironia utilizada na TV Pirata está sintetizado numa paródia de um comercial do presunto Sadia (assista o vídeo abaixo). Protagonizada por Diogo Vilela, a sátira em questão, anunciando os "Presuntos Baixada", em alusão à crescente violência na Baixada Fluminense, foi ao ar num dos programas, em setembro de 1988. Nesta acepção, "presunto" não é designação para um embutido derivado de carne; é sinônimo de defunto, de cadáver, de morto, de assassinado.

A paródia mostra Diogo de olhos vendados, manipulando cada uma das pernas dos quatro respectivos indivíduos, expostos em um certo ambiente, com a finalidade de descobrir quem é o misterioso "presunto". Depois de o ator inspecionar que as três primeiras pessoas não eram realmente defuntos, ele já terminou comprovando quem é ele. "Ah, é esse. É, é esse!", espantou-se Diogo.

Finalmente, o locutor, aparentando possuir uma ótima dicção, assina embaixo: "Presuntos Baixada, o único que vem com azeitona, apresenta..." Que azeitona é essa, que o locutor se referiu na assinatura do falso anúncio? Assim como "presunto", também é uma gíria regional usada em larga escala na Baixada Fluminense e não há nenhuma vinculação com produtos comestíveis. "Azeitona" foi usada, neste sentido, como termo pejorativo, com referência a projétil (a popular bala) de revólver, de pistola ou de quaisquer armas de fogo.

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